A pintura etno-antropológica de Raimundo Bida
No dizer do antropólogo Marc Auge, o mundo contemporâneo vive sobre o efeito cruzado de três transformações profundas, cuja modalidade essencial é o excesso: excesso de tempo (superabundância de acontecimentos), excesso de espaço (superabundância de espaço) e excesso de individualização (individualidades de referência). Com a voracidade e banalização dos acontecimentos gerados pela “aceleração” da história, acompanhado pelo estreitamento do mundo e pela multiplicação dos “não-lugares”, se por um lado é possível pela primeira vez na historia da humanidade pensar a unidade global, por outro lado também se criaram as condições reais e à escala mundial dos recrudescimentos dos particularismos étnico-antropológicos.
A problemática centro/periferia, global/local é de grande actualidade. A globalização ou mundialização é hoje um facto imutável em expansão contínua. É o novo nome do devir histórico da humanidade. Vivemos uma época de profunda mutação. Sente-se, que o período actual é de transição, até de crise naquilo que ele significa de risco e oportunidades.
Há quem hoje pense e diga alto e bom som que é preciso distinguir entre mundialização (um facto) e globalização (um discurso). Se a mundialização é interacção, multilateralismo, partilha de pertenças. A globalização é um discurso e instrumento de dominação e hegemonização. Ao universalismo, homogeneização unidimensional dos saberes e fazeres, ao império do “fast food”, os múltiplos movimentos de antiglobalização contrapõem a força viva das especificidades nacionais, regionais e locais. Depois do impessoalismo do comunismo, há sinais claros de oposição e rejeição à impessoalização do mercado e à homogeneização unidimensional, causadas pelo assalto técnico-industrial que ostensivamente ignora as especificidades, as diferenças que dão vida e sentido à realidade.
Paradoxalmente, o mundo hoje é cada vez mais uno e diverso. No momento em que a economia se mundializa e o Estado se internacionaliza, a sociedade diversifica-se, pulveriza-se, individualiza-se. Ganha uma paleta diversificada de cores. O novo centro do mundo é um centro feito de mil centros. No dizer do sociólogo Alain Touraine, “o mundo é cada vez mais um mundo de multi-pertenças”. Vivemos uma época de profundas mutações, de cruzamentos de culturas, de múltiplos saberes que resistem à tentativa hegemónica do unilateralismo e imperialismo americano. Os EUA são a nova Roma dos nossos dias.
A globalização apresenta-se-nos hoje, de forma particularmente intensa, ora como uma fatalidade – a da sujeição às orientações hegemónicas emanadas dos centros da decisão económica e política internacional – ora como uma utopia – a da aposta na procura de alternativas de cariz contra-hegemónico e emancipatório. No mundo globalizado do século XXI, é preciso pensar e actuar a partir da compreensão das autênticas tensões que o atravessam – isto é da diversidade e riqueza cultural dos povos, da complexidade das suas relações e da heterogeneidade das suas expectativas - , e não das ilusões de uma idílica aldeia global, sobretudo quando estas são construídas na base de uma suposta mas falsa uniformidade dos cidadãos à escala global.
Como diz Edgar Morin “A vitória será daqueles que souberem fazer a síntese entre a identidade cultural e a cidadania planetária.”
No continente americano, tal como na Europa e no mundo, confrontamo-nos com dois modelos de globalização: o modelo americano que aqui tem o nome de ALCA – um poderoso instrumento de pura e simples anexação das economias e culturas americanas pelo império dos EUA, e o modelo alternativo liderado pelo Brasil – o MERCOSUL. Com a consolidação e alargamento progressivo do Mercosul, que tem na Europa o seu modelo inspirador, o Brasil parece destinado a assumir a liderança moral de uma nova América Latina no novo contexto de um mundo global.
Quem conhece Raimundo Santos Bida, como eu o conheço, pois já comi muita sopa com ele, sabe com é um cidadão altamente comprometido com o seu povo, com a sua terra, com as suas raízes, com as suas ideias. Como artista plástico e como cantor, compositor e músico é um artista profundamente “engagé”. A sua obra multifacetada, não é obra de pura diversão, de mero devaneio, de arte pela arte. É tudo menos uma arte descomprometida. É um artista de intervenção, de profundos compromissos. Quando pinta ou quando canta, fá-lo com a mesma convicção e vigor com que fala sobre os assuntos mais banais. O Bida, tal como a região do Nordeste brasileiro, é uma terra de cores claras, límpidas, transparentes. O seu modo de estar na vida, tal como na pintura é de uma beleza cristalina, contagiante. Na simplicidade da linguagem formal e da brancura das cores, assim como no recurso genuíno à temática etno-antropológica, o artista nordestino e baiano regressando de uma forma singela à pureza originária das memórias de um passado ainda presente, projecta-se vigorosamente no futuro, pintando e cantando vibrantemente o quotidiano das gentes rurais da Baía, retratando as actividades agrícolas, as brincadeiras e o festejos. As suas telas profundamente coloridas, no dizer feliz de Diana Salvado, têm uma marca inconfundível: os pés descalços e grandes dos seus personagens, simbolizando as suas origens humildes e a sua ligação à terra “são uma homenagem à simplicidade das gentes do campo de poucos recursos”. Fazendo nossas as palavras de Diana Salvado, “As teias do capitalismo (que) já penetraram em quase todos os sistemas e territórios, dificilmente invadirão as telas do Raimundo.”
No dizer do antropólogo Marc Auge, o mundo contemporâneo vive sobre o efeito cruzado de três transformações profundas, cuja modalidade essencial é o excesso: excesso de tempo (superabundância de acontecimentos), excesso de espaço (superabundância de espaço) e excesso de individualização (individualidades de referência). Com a voracidade e banalização dos acontecimentos gerados pela “aceleração” da história, acompanhado pelo estreitamento do mundo e pela multiplicação dos “não-lugares”, se por um lado é possível pela primeira vez na historia da humanidade pensar a unidade global, por outro lado também se criaram as condições reais e à escala mundial dos recrudescimentos dos particularismos étnico-antropológicos.
A problemática centro/periferia, global/local é de grande actualidade. A globalização ou mundialização é hoje um facto imutável em expansão contínua. É o novo nome do devir histórico da humanidade. Vivemos uma época de profunda mutação. Sente-se, que o período actual é de transição, até de crise naquilo que ele significa de risco e oportunidades.
Há quem hoje pense e diga alto e bom som que é preciso distinguir entre mundialização (um facto) e globalização (um discurso). Se a mundialização é interacção, multilateralismo, partilha de pertenças. A globalização é um discurso e instrumento de dominação e hegemonização. Ao universalismo, homogeneização unidimensional dos saberes e fazeres, ao império do “fast food”, os múltiplos movimentos de antiglobalização contrapõem a força viva das especificidades nacionais, regionais e locais. Depois do impessoalismo do comunismo, há sinais claros de oposição e rejeição à impessoalização do mercado e à homogeneização unidimensional, causadas pelo assalto técnico-industrial que ostensivamente ignora as especificidades, as diferenças que dão vida e sentido à realidade.
Paradoxalmente, o mundo hoje é cada vez mais uno e diverso. No momento em que a economia se mundializa e o Estado se internacionaliza, a sociedade diversifica-se, pulveriza-se, individualiza-se. Ganha uma paleta diversificada de cores. O novo centro do mundo é um centro feito de mil centros. No dizer do sociólogo Alain Touraine, “o mundo é cada vez mais um mundo de multi-pertenças”. Vivemos uma época de profundas mutações, de cruzamentos de culturas, de múltiplos saberes que resistem à tentativa hegemónica do unilateralismo e imperialismo americano. Os EUA são a nova Roma dos nossos dias.
A globalização apresenta-se-nos hoje, de forma particularmente intensa, ora como uma fatalidade – a da sujeição às orientações hegemónicas emanadas dos centros da decisão económica e política internacional – ora como uma utopia – a da aposta na procura de alternativas de cariz contra-hegemónico e emancipatório. No mundo globalizado do século XXI, é preciso pensar e actuar a partir da compreensão das autênticas tensões que o atravessam – isto é da diversidade e riqueza cultural dos povos, da complexidade das suas relações e da heterogeneidade das suas expectativas - , e não das ilusões de uma idílica aldeia global, sobretudo quando estas são construídas na base de uma suposta mas falsa uniformidade dos cidadãos à escala global.
Como diz Edgar Morin “A vitória será daqueles que souberem fazer a síntese entre a identidade cultural e a cidadania planetária.”
No continente americano, tal como na Europa e no mundo, confrontamo-nos com dois modelos de globalização: o modelo americano que aqui tem o nome de ALCA – um poderoso instrumento de pura e simples anexação das economias e culturas americanas pelo império dos EUA, e o modelo alternativo liderado pelo Brasil – o MERCOSUL. Com a consolidação e alargamento progressivo do Mercosul, que tem na Europa o seu modelo inspirador, o Brasil parece destinado a assumir a liderança moral de uma nova América Latina no novo contexto de um mundo global.
Quem conhece Raimundo Santos Bida, como eu o conheço, pois já comi muita sopa com ele, sabe com é um cidadão altamente comprometido com o seu povo, com a sua terra, com as suas raízes, com as suas ideias. Como artista plástico e como cantor, compositor e músico é um artista profundamente “engagé”. A sua obra multifacetada, não é obra de pura diversão, de mero devaneio, de arte pela arte. É tudo menos uma arte descomprometida. É um artista de intervenção, de profundos compromissos. Quando pinta ou quando canta, fá-lo com a mesma convicção e vigor com que fala sobre os assuntos mais banais. O Bida, tal como a região do Nordeste brasileiro, é uma terra de cores claras, límpidas, transparentes. O seu modo de estar na vida, tal como na pintura é de uma beleza cristalina, contagiante. Na simplicidade da linguagem formal e da brancura das cores, assim como no recurso genuíno à temática etno-antropológica, o artista nordestino e baiano regressando de uma forma singela à pureza originária das memórias de um passado ainda presente, projecta-se vigorosamente no futuro, pintando e cantando vibrantemente o quotidiano das gentes rurais da Baía, retratando as actividades agrícolas, as brincadeiras e o festejos. As suas telas profundamente coloridas, no dizer feliz de Diana Salvado, têm uma marca inconfundível: os pés descalços e grandes dos seus personagens, simbolizando as suas origens humildes e a sua ligação à terra “são uma homenagem à simplicidade das gentes do campo de poucos recursos”. Fazendo nossas as palavras de Diana Salvado, “As teias do capitalismo (que) já penetraram em quase todos os sistemas e territórios, dificilmente invadirão as telas do Raimundo.”
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