segunda-feira, janeiro 21


A Galeria Geraldes da Silva inaugura no próximo dia 02 de Fevereiro às 21:00h uma exposição colectiva de três fotógrafos.
Cada autor aborda uma temática diferente, acabando por ser uma “viagem” por cada piso da Galeria.
Adelaide Carneiro "Entre", Luís Coelho "Levei o meu peixinho a passear" e Sergio Rodrigues "Cansaço"

A exposição estará patente até ao próximo dia 28 de Fevereiro, de Segunda a Sábado das 10:00h às 13:00h e das 14:30h às 19:00h na Galeria Geraldes da Silva.



ENTRE
Adelaide Carneiro

Entre. Seja bem-vindo ao ente de um corpo performado. Um corpo despido, feminino, sem identidade, mas autêntico.
Entre. Este é o convite da autora para se apropriar da sua criação.
Entre, ela quer que desperte o seu lado “voyeur”. Espreite! Explore! Observe! Pense! Toque! Sinta!
O que vê são três séries de performances que exploram a desfragmentação do “eu”.
Uma das demandas - base do trabalho é a reflexão sobre até que ponto a pose para a fotografia, também não poderá ser considerada fotografia performativa?
Mas este trabalho é muito mais que uma demanda, é experienciar uma viagem ao mundo de um corpo possuído por três “personas”, que surgem através da exploração do “eu”. E que de “eu” passam a “ela”.




LEVEI O MEU PEIXINHO A PASSEAR

Levei o meu peixinho a passear, já que toda a gente leva os seus animais de estimação porque que eu não posso levar o meu peixe? E assim foi: peguei no aquário que está sempre no mesmo sítio, coitado do bicho vê sempre os mesmos móveis, os mesmos quadros, as mesmas jarras e as mesmas pessoas. Resolvi começar a leva-lo para todo o lado, o bicho também precisa de novas experiências. Durante as varias viagem, toda a gente olhou para o meu peixe, fiz furor, vinham-me perguntar porque é que eu andava com um aquário na mão e eu dizia-lhes com a maior descontracção que estava a passear o meu peixe tal como eles estavam a passear o seu cão lavrador, já que os peixes também têm direito a passear. O meu peixinho nunca tivera tantas emoções ao mesmo tempo, foi como abrir-lhe a porta a uma nova dimensão, é como se nós um dia passássemos uma porta e deparássemos com uma realidade totalmente nova, onde tudo o que nós dávamos por adquirido fosse subvertido. O meu peixinho perceciona a realidade de uma forma diferente da que eu perceciono, não só porque tem olhos diferentes mas também porque está dentro de um aquário de vidro, de certa forma todos nós somos como o meu peixinho, pois todos nós vivemos no nosso aquário que nos altera a perceção da realidade, que a distorce e altera de várias formas. Este trabalho é uma metáfora a nós próprios, já que todos nós percecionamos a realidade de forma diferente, os nossos aquários vem já de nascença mas vão sendo alterados, riscados, distorcidos, descolorados; estas alterações provêm do nosso processo de crescimento, das experiências que vamos tendo ao logo da vida, da formação que temos, dos livros que lemos, da música que ouvimos, da comida que comemos, da cultura onde nos inserimos e de toda uma panóplia de experiências variadas que vamos tendo ao longo da vida. Todos nos vivemos dentro de aquários diferentes que alteram a nossa perceção da realidade de forma distinta, não melhor do que as outras pessoas mas certamente única e se calhar essa característica é algo fundamental para a humanidade.


CANSAÇO

Inspirado pelo pessimismo e pelo decadentismo da literatura portuguesa, o conceito teve origem no poema “Cansaço” de Álvaro de Campos (heterónimo de Fernado Pessoa).
Mergulhado no seu conteúdo mas, procurando não ilustrar de uma forma directa os possíveis sentimentos e pensamentos do autor, esta série de auto-retratos procuram contar uma breve história estabelecendo um paralelismo entre as personagens.

Pessimismo remete para a ideia de que tudo é mau, muito mau, é péssimo (daí o nome). Em filosofia, entende-se como um sistema dos que não acreditam no valor da existência no progresso moral e material, na melhoria das condições sociais nem em qualquer evolução para melhor e para o ótimo.
O pessimismo é, profundamente, existencial e metafísico na medida em que é a própria existência que surge sem sentido. Filósofos como Kierkegaard (1813-1855), Schopenhauer (1788-1860) e Nietzsche (1844-1900) foram pessimistas. Na perspetiva do filósofo Schopenhauer, viver é sofrer, com pequenos instantes de felicidade, o que leva a considerar que a vida é absurda. Para o filósofo, a vida é dor, efemeridade e miséria; a existência é um completo sem sentido; a única salvação do homem é poder esperar o repouso no nada. Diz Antero de Quental que "O pessimismo não é um ponto de chegada mas um caminho. É a síntese da negação no esforço da natureza, a luz implacável caindo sobre o acervo das ilusões, das causas naturais" .
No romantismo e na transição dos séculos foram evidentes as correntes de pessimismo. Nos finais do século XIX e do século XX, o pensamento do vazio e do absurdo é facilmente observável em filósofos, escritores e artistas. Por exemplo, Fernando Pessoa, sobretudo através do heterónimo Álvaro de Campos, na terceira fase, marcada pela abulia, revela constantemente o pessimismo em relação à existência.



 



Sem comentários: